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25 de Abril de 2024
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    O lado bom e o lado ruim de se ter US$250 bilhões em reserva

    Exatamente no momento em que o Brasil comemorava ter atingido a marca recorde de US$ 250 bilhões em reservas, o "board" do Fundo Monetário Internacional (FMI) reunia-se para analisar o fenômeno da intensa acumulação de ativos internacionais na última década, especialmente pelos países emergentes, e suas implicações na estabilidade do sistema financeiro global.

    Escaldado por ter sido pego com parcas reservas em várias crises internacionais do passado, o Brasil foi pacientemente construindo seu pé-de-meia, comprando dólares no mercado, emitindo títulos e economizando divisas. Na crise da moratória russa entre 1998 e 1999, por exemplo, o Brasil chegou a ter apenas US$ 24,45 bilhões e acabou na mira dos especuladores.

    Desta vez foi diferente. O Brasil entrou na crise que varre o planeta desde 2007 com quase US$ 200 bilhões em reservas, que lhe deram cacife para vender US$ 14,5 bilhões no mercado, conter a alta do dólar e oferecer crédito a exportadores e empresas que não conseguiam renegociar dívidas externas por causa do aperto de liquidez internacional. As reservas foram "uma vacina contra a crise", disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

    Outros países fizeram o mesmo. A China é campeã, com US$ 2,45 trilhões. O Japão tem US$ 1 trilhão. Segundo o FMI, as reservas internacionais triplicaram nos últimos dez anos e atingiram cerca de US$ 8 trilhões, o equivalente a 13% do Produto Interno Bruto (PIB) global, quantia suficiente para bancar dez meses de importação e pagar 475% da dívida externa de curto prazo.

    Depois de sofrer uma interrupção no auge da turbulência, a acumulação de reservas retomou o ritmo anterior, constatou o FMI. As reservas brasileiras, por exemplo, estão US$ 40 bilhões acima do patamar anterior à crise. A alta dos juros atrai ainda mais recursos externos.

    Apesar de terem amenizado a crise em vários países emergentes, reservas crescentes preocupam o FMI. O Fundo considera que o fenômeno é um sintoma de problemas e imperfeições do sistema monetário, e foi desencadeado por questões como a instabilidade dos fluxos financeiros, desigualdade na disponibilidade de liquidez, ajuste assimétrico aos choques.

    Apesar das consequências benéficas, manter reservas elevadas tem um custo. Investido em ativos seguros, mas de baixo rendimento, como títulos do governo americano, o dinheiro das reservas não vai para o consumo nem investimento, segurando o crescimento econômico. Não se pode esquecer do custo de carregamento, bastante elevado no caso brasileiro dado o diferencial entre o retorno obtido no exterior e os juros internos altos.

    Outra preocupação do FMI é a eventual formação de bolhas nos ativos mais procurados pelos administradores de reservas. Os levantamentos do FMI indicam que 60% a 65% das reservas internacionais estão investidas em ativos em dólar; outros 10% em euro, que não se confirmou como alternativa forte.

    Durante a crise, o FMI chegou a propor o desempoçamento desse dinheiro, sem muito sucesso. O Fundo convidou os países a aplicar em títulos lastreados na moeda do Fundo, o direito especial de saque (SDR, na sigla em inglês). Só 13 países aderiram. Um deles é o Brasil, que acaba de oficializar sua participação nos Novos Mecanismos de Empréstimo (NAB), fundos cujo objetivo é reforçar a capacidade financeira do FMI. O país investirá cerca de US$ 13 bilhões na compra de notas ou bônus do FMI emitidos em SDR. Os recursos continuarão fazendo parte das reservas e poderão ser resgatados prontamente, em caso de necessidade. O NAB dispõe atualmente de US$ 50 bilhões, mas o comando do Fundo queria ter dez vezes mais.

    A reunião do board do FMI não trouxe uma solução para o problema, que voltará ao debate no segundo semestre. Mas revelou vários desentendimentos. Os diretores do Fundo apoiaram a realização de estudos para dimensionar o tamanho ideal das reservas de cada país, mas nem todos concordam na aplicabilidade desse trabalho. Alguns recomendaram o estudo dos fluxos de capital com vistas a criar políticas para minimizar distorções, mas esse tipo de aproximação do problema recebeu algumas críticas. Também pareceu destinada à lata do lixo a proposta de se penalizar países com desequilíbrios persistentes.

    Em relação à diversificação das aplicações das reservas, os diretores do Fundo apoiaram a proposta de estimular o papel do SDR e concordaram também com a necessidade de se promover o aumento da transparência dos investimentos das reservas, embora esperem baixa adesão a esse convite.

    Fonte: Valor Econômico

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